Já eu descia a escada miserável
quando entraste apressado pela porta;
vi o teu rosto que não conhecia, e também me viste.
Ocultei-me então, para não ser visto uma segunda vez,
e passaste com o rosto na sombra,
perdido já na casa infame
onde não sentiste, como eu, nenhum prazer.
O amor que desejavas eu podia, no entanto, dar-te;
e o amor que eu desejava - diziam-me os cansados
e ambíguos dos teus olhos - podias dar-me.
Tudo era sabido pelos nossos corpos que se procuravam;
éramos compreendidos pelo sangue e pela pele.
Pois assim mesmo não deixámos, perturbados, de nos ocultar.
Konstantin Kavafis, Páginas Íntimas, Hiena Ed.,1994 (trad. João Carlos Chainho)
5 comentários:
páginas íntimas.
de íntimos desassossegos.
não conhecia. obrigada ângela.
beijo.
desocultação!
de um clássico que preservou a pele da alma e
mais tarde a entregou.
Kavafis....:) O descontento e o rigor.
____________assim.
em cântico....mais grego que a grécia....que o foi escondendo...:)
beijo.
O amor é grego, a poesia mais alta é grega, Deus é grego.
Não me lembrava - não conhecia, certamente - esse poema de Kavafis. Foi muito bom lê-lo.
beijo.
gostei muito, ângela. não conhecia... mas diz a verdade, o que nem sempre é fácil em poesia. um beijinho grande. (a música é um assombro!).
selecções mais do que perfeitas num complemento directo
ou não fora a Grécia
( por isso ficámos todos gregos por ainda ,hoje ,a não termos conseguido ,integral mente ,entender//conhecer//saber//interpretar )
.
um beijo
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