o sangue não deixa mácula
a merda não cheira a merda.
entre nós e os outros existe
uma tela virtual
asséptica
que banaliza a miséria
disfarça a solidão
encobre as metástases
ignora o cancro
entre nós e os outros há
uma falsidade no trato
uma ligeireza no afecto
uma bajulação enganosa
que enobrecem as putas.
dia-a-dia arrancarei um cabelo
para saber quantos aguento
nesta prisão infecta
11 comentários:
palavras cruas ditas do mais dentro.
quem dera elas pudessem devolver a dignidade de ser humano.
um beijo Ângela.
tens toda a razão, ângela. sempre pensei nas prostitutas como mulheres mais dignas do que certas senhoras de porte clássico. por baixo do perfume francês, há muita merdinha mal cheirosa de facto... gostei muito de te ler agora. um beijo grande.
da falsidade e da ligeireza.
dos cabelos do tempo que nos arrepia o osso da verdade e dele faz uma cabeleira crespa...
da tremenda fome de autenticidade
do saber afinal que somos brisa.
tão breve...
vale a pena ser-se tão de espelhos e não de reflexo?
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post para recortar.
bom DIA ANGELA.
.
IMF.
"entre nós e os outros há
uma falsidade no trato
uma ligeireza no afecto
uma bajulação enganosa"
Gosto do teu espaço, porque dizes tão certas as coisas... [que não soe a bajulação :)]
Beijo
ângela, muito obrigada pelo teu comentário, aquela carta da isabel para o joão maria é das coisas mais arrepiantes que já li e fico muito contente que tenhas dito o que disseste :) beijinho grande *
Ó minha amiga Ângela, tu desculpa mas desatei a rir com este poema.
E não é que nele não se digam verdades, e não é que não se digam como se devem dizer, e não é que não se utilizem as palavras correctas, é exactamente por tudo isso estar no sitio certo e da forma como só podia estar.
De uma coisa estou certo, não ficarás careca.
Excelente!
Forte abraço.
PS: Sobre um outro assunto que saberás qual, vê se me mandas a lista completa que eu gosto de saber essas coisas.
a mulher é um pássaro
estrangulado
... mas ainda canta.
beijo.
(Só porque você fala em prisão... Vou ao presídio daqui a pouco, falar poesia aos presos. Um brilho de luz, anseio de liberdade. Por essas coisas que a poesia dói. Estou festejando o Dia da Poesia - amanhã, no Brasil, dia de Castro Alves.)
Suponho que entre NÓS e os OUTROS existirá sempre um muro invisível...
Afinal, a concha é cada vez mais bela, a carapaça cada vez mais opaca, a vida cada vez mais solitária...
Mulheres da rua, todos somos um pouco. Basta ceder a apagar um sonho, basta aceitar o conforto sem olhar para o lado...
Quando não restarem mais cabelos,
poderás ter contado os dias.
Mas só os dias que já passaram,
não os dias que ainda faltam...
Portanto,
os vivos também já não se tapam.
E sabes porquê ?
Porque já não vale a pena.
( Gostei muito deste espaço )
simplesmente fabuloso querida ângela
tão somente porque até nas palavras duras, és bela e singular.
[confesso nunca ter lido nada assim]
e pasmo, perante a supresa que representas num todo enorm.íssimo.
parabéns!
e deixo-TE um beijo, sentido.
eu diria que as coisas sao como sao.
entre pavoes e faisoes
acaros piolhos pulgas
deus diria que tbem sao seus filhos
apesar de hoje ser dia 14...
bom dia 11
beijo
cesar
Excelente, Ângela! Na forma e no cortante conteúdo!
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