é quando os dias se contam pelos dedos
que a terra se prepara a parir o ventre cheio
de uma vida inteira amadurecendo
legumes e frutos
ou azeite e farinha
que o soalho range por cuidadosos que sejam os passos
de tanto sabão amarelo e lixívia
e sossega a vigília tranquila de muitas noites vazias.
já não vejo motivo para lágrimas
a bordarem estes dias últimos
se as colheitas preparam um novo ciclo fértil
e a natureza se cumpre assim
dócil e selvagem num espasmo de amor
de quem repousa o corpo
e se evade da alma.
preparado o esquife em cerimónia singela
apenas se aguarda um sinal
que venha do céu ou dos montes
uma gota de sangue na pia baptismal
ou os sinos talvez que toquem a rebate
para iniciar o percurso do calvário
até à montanha mais alta
e com as cinzas de novo fecundar
o ventre renovado.
5 comentários:
enquanto se contam os dias pelos dedos eu subo à montanha mais alta.
onde o tempo é sempre de colheita.
beijo.
Subi a montanha mais alta
para encontrar o dia.
Encontrei os teus olhos em chamas
com um cálice de poesia nas mãos.
Um beijo.
um baptismo aurífero.
o sinal da colheita.
o coração a rebate de palavra em palavra. fotogramas do mais puro amor à terra onde "a.calvariamos" o gosto da cal que o sol alarga. .
sinal dos dias dentro deste novo tempo que é teu.
fecundo e próximo. num tecer de sonhos rubros.
bom dia A.
Adoro o Outono, por várias razões, e ainda por estas que, poeticamente, gravaste em mim.
Beijo, Ângela.
Sentido assim, o teu Outono que seduz, cheio da natureza que nos invade e une à mãe-terra :)
Escreves mesmo bem!
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