Fotos de Inês M.G. , Março 2009
"O flâneur protesta com o seu ostensivo vagar contra o processo de produção"
Walter Benjamin, A Modernidade, Assírio & Alvim, 2006
de/vagar os teus olhos pousam sobre a roupa que não estava a secar, vêem mais longe, num instante fugaz que conseguiste agarrar, nesse protesto constante contra a cidade que expulsou os poetas. o princípio da criação. antes do verbo.
não sabemos o que viste e isso pouco importa. isso não importa.
importa que vives ao arrepio do mundo que te rodeia. importa que afirmas o teu vagar, importa que vês os pobres escondidos nas esquinas e não passas distraída.
assim vais oferecendo os teus testemunhos polifónicos, como se foram panfletos, para que, quem neles tropece, possa talvez ver-se obrigado a parar e perceba que ao invés de produzir em cadeia pode criar um jardim onde só se vê betão.
11 comentários:
""""que abril se levante e nos devolva o sentido."
mas abril é gente, abril já não é um cravo, já não é metáfora milagrosa
que pinta as paredes de esperança.
a memória foi sufocada, a terra foi coberta de alcatrão, a gente foi violada
e rasteja de medo, os "ques" e os "ses" esvaziaram as frases, o silêncio
instalou-se num hemiciclo recoberto de telas plasmáticas,
a tecnologia é distribuída para dar abrigo a quem
não come e vai morrendo envergonhadamente...
onde está a gente de abril?
onde está a ideia de abril?
(queria ser mais optimista, mas foi assim que o teu texto me deixou.""""
obrigada A.
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criação do in.fugaz. estendido em testemunho sim. de todos os jardins onde haja SOL.
beijo.
do olhar que vê.
e espalha panfletos que ensinam a inventar jardins.
beijo.
da riqueza, da grandeza, da beleza
de inter/textual/escrever
a rubro
devagar.....no dia....
:)
_______________.
de vagar se estende a mão ,se vê ( e não apenas se olha ),se pensa ( e não apenas se opina )se é
GENTE
em abril ,para acreditar
.
um beijo
E é uma oferta, sim, estes teus "panfletos". Fazem-me bem as tuas palavras... [e as que me deixas também, porque... sabes.]
Beijo, Ângela
importa que os pobres não sejam meros pensamentos desagradáveis que empurramos da consciência. um texto muito bonito, ângela. beijo.
Boa tarde Ângela
Desculpe o abuso de intimidade.
Gostaria de deixar registado como entendo os testemunhos polifónicos que refere neste seu texto. Entendo-os como rumos que se abrem em pequenos haicai. Corto-os aos bocadinhos para os entender na sua forma maior. Aguço o ouvido lá, onde se ouvem e encontro o fio de um papagaio de papel, frágil, gentil, em tons de arroz suaves que dobram tsurus e piam paz.
E, Ângela, as palavras que escreve não são inúteis "cursos de água". Ecoam junto das palavras de outros, que como a Ângela, não nos deixam desistir. Como diz uma grande domadora de palavras "o fermento é o único testemunho que pode ser chão" (PIANO).
Vocês são o nosso fermento como Pascoaes, Fernando Pessoa, Agostinho da Silva e tantos outros o são para vós.
Fermentem-nos, Ângela.
Obrigada a ambas pelos panfletos virtuais.
Será que sabemos criar outros jardins que não de mau betão?
Ou então, será que sabemos fazer outro betão em quantidade e qualidade para que dele nasçam jardins?
Porque até a produzir em cadeia nós somos fracos...
Resumindo, na minha opinião, falta-nos a mola real e a massa crítica para ver e ir mais longe, colectivamente.
Isto foi o que o teu excelente texto me "obrigou" a dizer.
Bom fim de semana,
Beijos.
PS: Já há algum tempo que não vinha aqui, mas gostei do que li nos posts "atrasados"...
Acho que não cheguei lá! :) O vagar, o olhar atento que parecem trazer algo de auspicioso, mas depois um inevitável jardim de betão...
Beijinhos ângela
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