Pina Bausch, Café Müller
(no dia mundial da dança)
As cadeiras ficaram espalhadas, tal como ela as havia deixado. Dominique está sentado no chão, encostado à parede vazia. Cada vez mais branca. O desencontro fora marcado para aquele sábado ao cair da noite. Naquela Primavera.
De um lado, Pina fazia perguntas, muitas perguntas sobre riachos e as árvores, sobre o vermelho e o sol, sobre as tempestades e o tempo de Chronos.
Do outro, rente ao chão, Dominique rastejava como uma serpente ou pulava como um tigre. Cavalgava nas costas de uma cadeira. Tentava penetrar na parede imóvel. Suava. Chorava. Uivava.
Ela convocou a companhia de dança. Chegaram eles e elas, clowns e manequins, esqueletos e ossadas. Havia também soldados da Bósnia, do Afeganistão e do Iraque. Havia xiitas e militares russos que tinham assassinado todos os suspeitos de subversão. E havia um dissidente chin~es. Apenas um.
Todos deviam coreografar as suas vidas naquela palco improvisado entre o Paraíso e o Mar. Não havia lugar a monólogos. O desafio era criar a Força Sagrada da Primavera, uma última vez, antes do Apocalipse.
Quando o espectáculo acabou, o público partiu inquieto, Dominique estava caído, ofegante e levantou o braço em direcção à parede vazia, branca, murmurando:
Pina!....