entrei na livraria
e o mundo ficou ainda mais pequenino,
tão pequeninas as gentes
que habitam fatalmente este
país pequenino.
tão pequeninas as palavras que
usamos. e inúteis. põem-se em bicos
de pés para atingirem metáforas
muito originais e catrapum no chão,
banalíssimas desde Camões
ou António Ferreira.
procuro os meus mortos
nas estantes de madeira
carcomida e estão corroídinhos
de invejas prosaicas,
daquelas muito atávicas
que nem o mar consegue
invadir. os livros estão encadernados
de fulanos, as manchas gráficas são
prefácios lambusentos,
o preço de capa
esconde-se atrás do código de barras
e a editora chancelou um qualquer
lobbie maçónico.
hoje, eu entrei numa livraria
e sentei-me num banco
para chorar descansadamente.
Explicação desnecessária: Não se trata de uma homenagem envergonhada a José Saramago, que aprecio há muitos anos e que tendo morrido em paz consigo, me merece o silêncio de reconhecimento.