digo que foi uma folha de lotus que caíu de uma janela no Oriente e a vela, que tinha sido acendida uns minutos antes por um velho sereno à estátua de Shiva, se apagou com a brisa provocada por um colibri que beijava uma flor nas costas da América do Sul. o calor húmido da savana provocou um imenso tremor em Katherine Mansfield quando ela se preparava para fechar a janela do seu quarto em Londres. e foi assim que as amendoeiras se encheram de brancura no Al-Gharb e o príncipe Ibn-Almundin se tomou de amores pela princesa Gilda, tal Rita Hayworth gingando “Put the Blame on Mame”. essa não foi a postura de Santa Isabel, quando disse serem “rosas, senhor!” pois de tal forma não seria o mar salgado com lágrimas de Portugal, mas talvez o deserto manchado com o sangue de Alcácer Quibir e Sebastião voltasse com o Romeiro para desgraçar a família Coutinho, ou Pereira, ou Bragança. interessa é perceber que não há “a Hora”, mas antes uma Chuva Oblíqua desencadeada por uma só lava em Stromboli, que ninguém conheceria sem o filme de Rossellini. um Orlando que, não sendo furioso, descobriu a sua androgenia nas mais belas páginas de Virginia Woolf, de quem não é necessário ter medo. nem tão pouco do tempo que passa inevitavelmente mais depressa à medida que as rugas se acentuam em volta dos olhos ou dos buracos negros que invadem a memória, ainda que tenha sido de elefante. as naus já partiram há muito contra restelo, o ouro está todo delapidado pelas paredes de igrejas barrocas até ao tutano, a cadeira caiu mesmo sem ninguém lá sentado, as prosperidades foram devidamente adulteradas em latifúndios, ao longe a preto e branco, os cigarros distribuídos, as mentes e consciências branqueadas, os livros rasurados , a aurea mediocritas enraizada. não viste nada em Hioroshima, os veteranos do Vietnam só aparecem em filmes, do Kosovo ficaram alguns romances por escrever, talvez o Iraque guarde a bomba fantasma para outro século...
.só Gaia está zangada e é natural que se aconchegue a Caos.
Foi apenas por isto que nos encontrámos, num fim de tarde, à beira rio.
2 comentários:
texto oblíquo com flores pelo meio.
alguns cardos e muitas metáforas. ao teu jeito. belo.
fantástico texto, Ângela, verdadeiro fractal de histórias e História, personagens reais e irreais, sociedade e arte, humanidade e denúncia.
beijo.
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