Didier Sévanne
Não sou de fechar janelas. Já as portas apenas abro em momentos solenes. Entrar e/ou sair não é coisa leviana, nem que se faça várias vezes ao dia, como se bebe um copo de leite fresco ou se come um naco de pão, mesmo que o diabo não o tenha amassado. Mas a janela deve manter-se aberta, sob pena de sufoco, ou de cegueira irreversível. Porque há sempre dois lados em cada viagem, em cada carro, em cada paisagem: o lado de fora e o lado de dentro. O lado do precipício e o lado do medo. O lado do predador e o lado da presa.
Não sou de fechar janelas porque estou sempre dos dois lados do Livro: o de quem escreve e o de quem lê. Sinto a pele a rasgar-se, a vertigem do funâmbulo, o zumbido do giz sobre a ardósia.
Entre a Janela e o Livro eu escolho abraçar os dois, ainda que me estilhacem os olhos.
3 comentários:
Como eu a compreendo! Mas às vezes os olhos estilhaçam mesmo...
Beijo :)
belo!
beijo.
Viva a frescura das correntes d'ar.
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