quarta-feira, 22 de abril de 2009

vagar



Fotos de Inês M.G. , Março 2009


"O flâneur protesta com o seu ostensivo vagar contra o processo de produção"


Walter Benjamin, A Modernidade, Assírio & Alvim, 2006





de/vagar os teus olhos pousam sobre a roupa que não estava a secar, vêem mais longe, num instante fugaz que conseguiste agarrar, nesse protesto constante contra a cidade que expulsou os poetas. o princípio da criação. antes do verbo.

não sabemos o que viste e isso pouco importa. isso não importa.

importa que vives ao arrepio do mundo que te rodeia. importa que afirmas o teu vagar, importa que vês os pobres escondidos nas esquinas e não passas distraída.

assim vais oferecendo os teus testemunhos polifónicos, como se foram panfletos, para que, quem neles tropece, possa talvez ver-se obrigado a parar e perceba que ao invés de produzir em cadeia pode criar um jardim onde só se vê betão.



11 comentários:

Isabel disse...

""""que abril se levante e nos devolva o sentido."
mas abril é gente, abril já não é um cravo, já não é metáfora milagrosa
que pinta as paredes de esperança.
a memória foi sufocada, a terra foi coberta de alcatrão, a gente foi violada
e rasteja de medo, os "ques" e os "ses" esvaziaram as frases, o silêncio
instalou-se num hemiciclo recoberto de telas plasmáticas,
a tecnologia é distribuída para dar abrigo a quem
não come e vai morrendo envergonhadamente...

onde está a gente de abril?
onde está a ideia de abril?

(queria ser mais optimista, mas foi assim que o teu texto me deixou.""""



obrigada A.



__________________________


criação do in.fugaz. estendido em testemunho sim. de todos os jardins onde haja SOL.


beijo.

maria josé quintela disse...

do olhar que vê.



e espalha panfletos que ensinam a inventar jardins.



beijo.

Unknown disse...

da riqueza, da grandeza, da beleza


de inter/textual/escrever


a rubro

isabel mendes ferreira disse...

devagar.....no dia....
:)




_______________.

gabriela rocha martins disse...

de vagar se estende a mão ,se vê ( e não apenas se olha ),se pensa ( e não apenas se opina )se é

GENTE

em abril ,para acreditar


.
um beijo

Graça disse...

E é uma oferta, sim, estes teus "panfletos". Fazem-me bem as tuas palavras... [e as que me deixas também, porque... sabes.]

Beijo, Ângela

Anónimo disse...

importa que os pobres não sejam meros pensamentos desagradáveis que empurramos da consciência. um texto muito bonito, ângela. beijo.

Anónimo disse...

Boa tarde Ângela

Desculpe o abuso de intimidade.

Gostaria de deixar registado como entendo os testemunhos polifónicos que refere neste seu texto. Entendo-os como rumos que se abrem em pequenos haicai. Corto-os aos bocadinhos para os entender na sua forma maior. Aguço o ouvido lá, onde se ouvem e encontro o fio de um papagaio de papel, frágil, gentil, em tons de arroz suaves que dobram tsurus e piam paz.
E, Ângela, as palavras que escreve não são inúteis "cursos de água". Ecoam junto das palavras de outros, que como a Ângela, não nos deixam desistir. Como diz uma grande domadora de palavras "o fermento é o único testemunho que pode ser chão" (PIANO).

Vocês são o nosso fermento como Pascoaes, Fernando Pessoa, Agostinho da Silva e tantos outros o são para vós.

Fermentem-nos, Ângela.

Obrigada a ambas pelos panfletos virtuais.

Nilson Barcelli disse...

Será que sabemos criar outros jardins que não de mau betão?
Ou então, será que sabemos fazer outro betão em quantidade e qualidade para que dele nasçam jardins?
Porque até a produzir em cadeia nós somos fracos...
Resumindo, na minha opinião, falta-nos a mola real e a massa crítica para ver e ir mais longe, colectivamente.
Isto foi o que o teu excelente texto me "obrigou" a dizer.
Bom fim de semana,
Beijos.

Nilson Barcelli disse...

PS: Já há algum tempo que não vinha aqui, mas gostei do que li nos posts "atrasados"...

Susn F. disse...

Acho que não cheguei lá! :) O vagar, o olhar atento que parecem trazer algo de auspicioso, mas depois um inevitável jardim de betão...

Beijinhos ângela

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