Ando farta de oxímoros diletantes, de metonímias pomposas, de toda a retórica que se compra nas grandes superfícies.
Pelo contrário, no comércio tradicional, que não seja gourmet, encontro as metáforas vibrantes que dedilham a guitarra portuguesa e o contra-baixo de charles mingus. Palavras como estrume, morangos, mel, detalhadamente colocadas em prateleiras envidraçadas, com a minúcia de merceeiro calvo que não confunde milho com trigo e obviamente sabe distinguir este último do joio. Não estão empacotadas as palavras: são colocadas conforme o pedido do freguês, em sacos de papel, que este leva na mão e vai comendo devagar, quando o sol rasa rios e mares e o cheiro das castanhas invade a cidade, juntamente com os gritos das gaivotas.
Porque as palavras, ao contrário do que dizem correntes pós-modernas e afins, são para ser comidas, trincadas, mastigadas e engolidas. De preferência com a ajuda de um maduro tinto de boa colheita: seco, encorpado, acima dos 12º.
Em suma, prefiro Cassandra a Penélope.
Hoje.
Amanhã talvez opte por um aforismo de Agustina.
Lisboa/Porto, 31/10/09
5 comentários:
desde que seja um aforisma agustinianamente oxímoro e cantante....por mim espero. sentada debaixo da inclinação do vento e sem sombra de líquidos que turvam o vermelho das quadrículas digo que gosto deste "a.cronicar" nada anacrónico. antes sibila. antes teoria do drama e do tempo.
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enfim....acthim....com beijo.
atchim também para ti:)))))))))))
por mim podes aviar-me um pacote de palavras destas, todos os dias, que eu prometo mastgá-las acompanhadas de um tinto do douro.
boa noite ângela. e um beijo.
Já tinha saudades destas andanças... Por absoluta entrega ao trabalho e à árdua tarefa de sobreviver, o escorpião que há em mim quase afundava-se a picar a rã. Eis senão quando a Isabel Mendes Ferreira lançou-me a bóia, num gesto de pura amizade misto de ternura e saudades. Eu diria um afago, pois foi assim que o senti. E perguntarás por que raio estou-te a escrever sobre isso. E a ti perguntarei o que a menina anda a fazer na mouraria? Assim faço a festa e deito os foguetes... As canas deixo-as cair, não me servem para nada. Prefiro olhar esta tua fotografia e deixar-me comover. É sinal de que ainda estou viva, algures entre lá e cá. Obrigada querida Ângela. Beijos,
MM
E já me ia esquecendo: as palavras são para ser ditas.
(fui!..)
MM
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