(2000 - 2008)
Apenas por esta janela
sinto o sol lamber-me a alma.
Do facto de que todo o poderio e todo o governo pertenciam primitivamente ao povo, e que este transmitiu o seu direito de legislação e a totalidade de seu poder ao Estado, ao Príncipe, conclui a sua escola, antes de mais nada, que o povo tem o direito de rebelar-se contra a realeza. (...)—Nós, porém—continuou Naphta—talvez não sejamos menos revolucionários do que o senhor. Sempre concluímos desse facto, em primeiro lugar, a supremacia; da Igreja sobre o Estado secular. Porque, se a origem não divina do Estado não estivesse escrita na sua testa, bastaria recordar precisamente o facto histórico dele derivar da vontade do povo e não, como a Igreja, de uma fundação de Deus, para demonstrar que ele é, se não uma obra do Demónio, pelo menos um produto da emergência e da imperfeição pecaminosa.
há os que afirmam
aconselham, apontam caminhos
assertivamente.
e há aqueles que observam
escutam, respigam pétalas
com a delicadeza de um olhar.
são estes que me conquistam
para a vindima ou a apanha
da azeitona.
os deuses
os outros
terei de cozê-los algures
num forno de lenha
ou numa parede bem húmida.

Catherine Deneuve & Malcolm MacLaren, Paris, Paris
quando me levantava do sena tinha
as mãos presas no lençol sob a ponte
tal e qual eram as pernas
que me havias enlaçado de véspera.
não sei se estavas louca à minha espera
ou se tinhas perdido o último metro
não sei se o café arrefeceu enquanto voltei ao mar
ou então se foi o sorriso que se esfumou nos teu cabelos
mas tu sabes que aqui as guitarras se abrem comigo.
ouve: volto sempre a Saint-Germain-des-Prés,
como uma fotografia desbotada,
sorrio de passagem ao Jean-Pierre
e tocarei à campainha.
Publicado na "Nova Renascença", 18, Primavera 1985 e agora reescrito.
as palavras rasuradas a sangue
bastam para desdizer o fio
de um tempo maturado
ao invès da pele. cerzidos
ambos com a limpidez
das noites brancas
que se alinhavam
sobre os meus ombros
curvados de solidão
