domingo, 10 de maio de 2009

na rota da Índia

Foto de Inês M. G.




que farei com a garrafa de cognac que ficou meio cheia, meio vazia?





não partiste em busca de nenhum tempo perdido, que não faz o estilo dos teus pés calejados: uma casa vazia onde não já não está o teu cheiro, um esqueleto de mulher, subindo e descendo teimosamente as escadas, não vá faltar-lhe o ar. ela que te tirou das ruas de paris, que te arrancou das mãos dos costureiros blasés, que tu chupavas em troca de uma garrafa de vinho ou de uma nota para a dose do dia seguinte. ela que te pariu os filhos, que vendeu o frigorífico para comprarem a primeira câmara de filmar.



e eu quase ausente na tua vida. cheguei apenas a tempo de bebermos uns copos, de me escolheres para uma cena de um filme teu, de conversarmos sossegadamente junto à lareira do teu quarto. apenas a tempo de um beijo escondido e vulcânico. apenas a tempo de me dizeres que não querias viver com a consciência tranquila. apenas a tempo de te agarrares ao meu pé nu durante uma peça de Tchekov, como quem diz que vai embora.


talvez por isso, eu não acredito que voltes.

talvez por isso, eu acredite que nos vamos encontrar. aí.



9 comentários:

maria josé quintela disse...

eu acreditaria no encontro (depois de beber o resto do cognac)


até porque o tempo de chegar e o tempo de partir é só um tempo. e uma ilusão.



(a rota da índia começa nesse mar?)



um beijo ângela.

Anónimo disse...

os orientes têem a macieza do regresso. mesmo daquele que não se sabe se é desejado.


rotas que o tempo destece.


consciência do inconsciente mais perto dos encontros.


e toda a ausência é um mar.

e gostei. MUITO.

da despedida que nunca é.

e Parabéns à fotógrafa.

e um beijo.


IMF.

. intemporal . disse...

seremos re.encontro no sítio onde não regressas.

ausente. na permanência do quase.

um beijo Ângela.

Graça disse...

Já há muito que cheguei à conclusão que gosto de te ler, em qualquer registo...

Talvez por isso, volte, sempre, com gosto.

Beijo, Ângela

tchi disse...

Um dia quis morrer com uma Índia.dose.

Mas como todas as vezes que fui à Índia foi em pensamento, não me foi possível morrer como já quis.

tchi disse...

Des.Oriento.me

Anónimo disse...

uma fotografia com mar para um poema com sal, querida ângela. um beijinho grande.

Gabriela Rocha Martins disse...

ando completamente desatinada....
já não sei quantas vezes li este teu magnífico texto e quase jurava que o tinha comentado

afinal não

não que o meu comentário venha acrescentar seja o que for ao texto .muito pelo contrário .só que um texto destes não pode passar sem nota

MAIS

dos melhores que tenho lido


.
um beijo

Susn F. disse...

Gosto de a ver, mesmo de costas. :) E gostei muito do texto, embora não me surja nada de inteligente para dizer sobre ele. :)

Beijo

FEMINISTIZA_TE

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