quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

DAVOS

Do facto de que todo o poderio e todo o governo pertenciam primitivamente ao povo, e que este transmitiu o seu direito de legislação e a totalidade de seu poder ao Estado, ao Príncipe, conclui a sua escola, antes de mais nada, que o povo tem o direito de rebelar-se contra a realeza. (...)—Nós, porém—continuou Naphta—talvez não sejamos menos revolucionários do que o senhor. Sempre concluímos desse facto, em primeiro lugar, a supremacia; da Igreja sobre o Estado secular. Porque, se a origem não divina do Estado não estivesse escrita na sua testa, bastaria recordar precisamente o facto histórico dele derivar da vontade do povo e não, como a Igreja, de uma fundação de Deus, para demonstrar que ele é, se não uma obra do Demónio, pelo menos um produto da emergência e da imperfeição pecaminosa.
—O Estado, senhor...
—Já sei o que o senhor pensa do Estado nacional. «Acima de tudo o amor à Pátria e o infinito desejo de glória!» A frase é de Virgílio. O senhor corrige-o com o acréscimo de um pouco de individualismo liberal, e surge a Democracia. Mas isso não modifica em princípio as suas relações com o Estado. O senhor não parece chocar-se com a circunstância, de que a alma do Estado é o dinheiro. Ou tenciona, acaso, desmenti-la? A Antiguidade era capitalista, devido ao seu culto do Estado. A Idade Média cristã percebeu com toda a clareza o capitalismo imanente do Estado secular. «O dinheiro será o imperador», é uma profecia do século xi. O senhor nega que ela já se cumpriu integralmente e que a vida se tornou, em si mesma, demoníaca?

Thomas Mann, in Montanha Mágica, 1924

9 comentários:

Isabel disse...

senhores do mundo....vinde aqui....ler!


e retomar a consciência do mesmo.


sobre o mesmo.


mesmo aqui. nesta Babel!



___________beijo.

Unknown disse...

os senhores não perdem tempo a vir a esta Babel.

e o pior é que também não devem ter perdido muito tempo e nem lhes ficou gravada na memória a leitura da Montanha Mágica, do Thomas Mann...

pelo menos, que não se imponha o silêncio.

bj

isabel mendes ferreira disse...

pois----


:((


mas que bem lhes faria....



bjo.

Nilson Barcelli disse...

Um ponto de vista interessante.
Mas a Igreja, na minha opinião, também foi construída pelo homem...
Obrigado pela partilha.
Beijo.

Unknown disse...

Claro que a Igreja foi construída pelo homem.
Creio que é importante sublinhar o título que dei ao post: Davos. Surgiu-me pelas notícias que surgem acerca do encontro que aí se realiza das grandes potências, para discutir a crise mundial.
A mim, Davos, lembra-me antes de mais 2 coisas: a estadia de António Nobre para tentar curar-se da sua tuberculose e o romance de Thomas Mann, que já em 1924 apontava questões, infelizmente ainda hoje pertinentes, relativas ao poder do "dinheiro". Acrescente-se ainda que a acção decorre em 1910, quando o mundo se dirigis de olhos fechados para a 1ª guerra mundial. Há pois que perceber que uma citação, fora do contexto, tem que ser lida com essa mesma limitação.
O que me parece também importante é que não fechemos os olhos àquilo que se passa aqui e agora e que tentemos perceber, olhando para trás, porque nada é absolutamente novo.
Pretendo, enfim, proporcionar o diálogo.
(Espero que os leitores não se assustem com todo este arrazoado.)
Obrigada por me ter dado o mote.

Graça disse...

Pertinente a citação...

Um beijo de boa noite.

[Gostei do teu comentário ao comentário do Nilson...e Davos também me faz lembrar António Nobre, poeta que gosto]

Unknown disse...

Miguel, antes de mais as minhas desculpas. Não faço ideia porque não aparece o teu comentário, por isso vou fazer copy/paste:

Muito bom, obrigado pelo comentário à minha densa e confusa poesia. confesso que também gosto de minimais, mas ando denso....



Abraços d´ASSIMETRIA DO PERFEITO

Unknown disse...

Obrigada, Graça!

beijo

hfm disse...

Da sabedoria dele e de quem o repescou!

FEMINISTIZA_TE

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