Não converso e muito menos discuto com o Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares, porque seria infrutífero. Mas converso e discuto com Augusto Santos Silva, como sempre.
Foi interessante, inesperada talvez para quem te não conheça, a comparação que fizeste entre “democracia” e “teatro”, relembrando que ambos têm origem na mesma cidade, Atenas, e que ambos usam a palavra como instrumento de conflito.
No entanto, se me permites, isso induz em erro qualquer ouvinte mais desinformado. Isto é, se há esta comparação, pode haver outras, como por exemplo, “afinal é tudo uma representação, um fingimento...” Não foi o que disseste, nem tão pouco o que eu digo, mas poderá pensar o mais, e até o menos, comum dos mortais.
Daí que eu não teria deixado passar tão brilhante referência. Porque a “democracia” ateniense discutia-se na Ágora, bem no centro da cidade, de homens para homens, por se tratar de assunto meramente humano. Enquanto o “teatro”, se representava em anfiteatros, bem nos arredores de Atenas, junto dos lugares de culto, onde os atenienses se dirigiam em procissão, para aí assistirem às tragédias representadas, procurando nas palavras trocadas entre homens e deuses, a catarse para os seus sofrimentos. Aí se sagrava o sangue e não se repartia a carne seca. Aí “a palavra “era performativa” (Quand dire s’est faire, O. Ducrot). Ao ser dita ela era a acção e o conflito em si mesma, ao contrário do que acontecia na Ágora onde ela se limitava a ser assertiva. Como tu próprio referiste acertadamente, muito depende do lugar onde as palavras são ditas: no centro de Atenas a palavra tratava da coisa humana, daquilo que os romanos viriam a chamar a “res publica” e nos anfiteatros a palavra era sagrada, era a palavra que fazia vibrar os atenienses pelo seu poder de colocar em cena, mimeticamente, os seus penares mais profundos.
Nem num nem noutro caso havia portanto lugar ao “fingimento”, à “falsidade” que infelizmente o senso comum veio a acrescentar a estas duas realidades tão nobres, que são o teatro e a democracia e que tu, inadevertidamente, induziste os auditores a poderem perigosamente comparar.
Digamos que foi naquele rés do chão, da Rua da Bandeirinha, que dava para o Douro, a ouvir a Antena 2, que eu te disse estas coisas.
Foi interessante, inesperada talvez para quem te não conheça, a comparação que fizeste entre “democracia” e “teatro”, relembrando que ambos têm origem na mesma cidade, Atenas, e que ambos usam a palavra como instrumento de conflito.
No entanto, se me permites, isso induz em erro qualquer ouvinte mais desinformado. Isto é, se há esta comparação, pode haver outras, como por exemplo, “afinal é tudo uma representação, um fingimento...” Não foi o que disseste, nem tão pouco o que eu digo, mas poderá pensar o mais, e até o menos, comum dos mortais.
Daí que eu não teria deixado passar tão brilhante referência. Porque a “democracia” ateniense discutia-se na Ágora, bem no centro da cidade, de homens para homens, por se tratar de assunto meramente humano. Enquanto o “teatro”, se representava em anfiteatros, bem nos arredores de Atenas, junto dos lugares de culto, onde os atenienses se dirigiam em procissão, para aí assistirem às tragédias representadas, procurando nas palavras trocadas entre homens e deuses, a catarse para os seus sofrimentos. Aí se sagrava o sangue e não se repartia a carne seca. Aí “a palavra “era performativa” (Quand dire s’est faire, O. Ducrot). Ao ser dita ela era a acção e o conflito em si mesma, ao contrário do que acontecia na Ágora onde ela se limitava a ser assertiva. Como tu próprio referiste acertadamente, muito depende do lugar onde as palavras são ditas: no centro de Atenas a palavra tratava da coisa humana, daquilo que os romanos viriam a chamar a “res publica” e nos anfiteatros a palavra era sagrada, era a palavra que fazia vibrar os atenienses pelo seu poder de colocar em cena, mimeticamente, os seus penares mais profundos.
Nem num nem noutro caso havia portanto lugar ao “fingimento”, à “falsidade” que infelizmente o senso comum veio a acrescentar a estas duas realidades tão nobres, que são o teatro e a democracia e que tu, inadevertidamente, induziste os auditores a poderem perigosamente comparar.
Digamos que foi naquele rés do chão, da Rua da Bandeirinha, que dava para o Douro, a ouvir a Antena 2, que eu te disse estas coisas.
11 comentários:
E, se me permites, sublinho tudo o que lhe disseste.
Forte abraço, Ângela.
PS: deixo-te aqui o meu re.comentário no post da I, visto não saber quando ela o publicará.
E vou, só voltando já noite cerrada.
Ângela, acrescento: Rir e chorar, para o poeta é criar, no sentido de uma ironia sapiencial que é presumivelmente partilhada pelo leitor mais atento mas quantas vezes paradoxal para o comum.
Para mim a poesia da I, é tão bela e tão profunda que há-de ser compreendida por poucos (se é que alguém já a compreende na sua plenitude).
Deixo dois versos de Teixeira de Pascoaes, poeta tão caro à I.
Em cima -, o riso eterno da ilusão;
Em baixo -, a eterna lágrima ilusória.
Forte abraço, Ângela.
Gosto de chegar aqui e ouvir a tua voz... dizes tão certas as coisas!...
Beijo, Ângela
Obrigada aos dois.
RESOLVI DEIXAR AQUI UM DESAFIO:
quem disser acertadamente quem são as duas criaturas no centro da foto tem direito a um presente:)
boa sorte!
eu não converso nem discuto nem com um nem com o outro.:)
mas gostei muitíssimo do que escreveste e como também não discuto contigo (o que escreves é tão assertivo)digo apenas que gostava de ter vivido em Atenas. Actualmente, prefiro teatro...
e
... não vou ganhar presente.:(((
um beijo Ângela.
ai, Zé:(... não digas que é assertivo o que escrevo... eu só dou os meus palpites.
não fujas para Atenas, porque depois não podias vir aqui conversar comigo.:)
obrigada. beijo
boa noite...........e sim. não à falsidade.
:)
beijo A.
.piano.
Bem, uma é o Agusto Santos Silva e a outra, presumo, és tu.
Forte abraço.
:)... e prontos, citando a Isabel!
está atribuído o presente, porque era fácil de presumir...
terás notícias:)
abraço, PiresF
muito bem dito, escrito e ainda melhor fotografado em película antiga. um beijo, ângela. bom fds!
Ângela ,corta o e que deixaste inadvertidamente
de mais
em concordância absoluta
.
um beijo
( acho que vou aproveitar a boleia da MJQ .parto com ela para Atenas )
:)bom dia, Gabriela!
será que cortei o "o" certo? tou aqui com uma dor de cabeça que fiquei meia hora a pensar no que raio estvas a dizer:)))))))))))
beijo
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